DAS PENTEADEIRAS AO CAMARIM

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DAS PENTEADEIRAS AO CAMARIM

Escrevi uma crônica sobre o petisqueiro de minha avó. Muitas pessoas amigas sugerem temas ao cronista. Depois da crônica do petisqueiro algumas garotas de minha geração sugeriram que eu fizesse uma crônica sobre penteadeiras.

Eu então resolvi pedir à algumas conhecidas que falassem sobre suas penteadeiras. As respostas foram bem interessantes.  Uma delas me disse que  herdou uma penteadeira antiga, linda, com espelho que balançava. Depois confessou que a tinha vendido para um antiquário. O motivo: Não coube no seu novo apartamento.

Outra me contou que sua penteadeira saiu de moda. O móvel atualmente  se  encontra num sítio da  família. Alguns relatos foram coincidentes. Os espelhos sempre aparecem como objeto de destaque nos depoimentos. Muitas descreveram os espelhos assim:

“As penteadeiras tinham um espelho central e dois laterais que eram presos ao central. De modo que se podia  movê-los para perto do rosto. Assim, era possível se ver os cabelos e os respectivos penteados da parte posterior da cabeça. Tanto de um lado, como do outro”.

Nas gavetas se colocavam grampos, laços, presilhas e fitas. Nessas gavetas também eram guardados os produtos para maquiagem. Geralmente um batom claro e um pouco de “rouge”. Depois o tal “rouge” passou a ser chamado de “blush”. Nos olhos, somente uma leve sombra, que hoje se chama “eye shadow” .  Tudo muito discreto como cabia a uma moça de família.

Em cima das penteadeiras,  bem em frente ao espelho central ficavam o talco e o perfume da época. Uma delas confessou que usava um chamado de Alma de Flores, até hoje presente nas farmácias.

Para a grande maioria o importante sempre foi o espelho, repita-se. Sem esquecer a banqueta, que dava conforto, não só para se pentear, como para se maquiar – “sempre sentadas”. Explicou-me uma delas.  O espelho deveria ser bisotado ou “bisotê”. São espelhos que não deformam a imagem, ainda que se mire de longe.

Muitas penteadeiras foram transformadas ou desmembradas. Ou mudaram de função. Como a de uma ilustre advogada cuja antiga penteadeira  adorna a sua sala, onde coloca porta-retratos com fotos das pessoas que lhe são queridas. As que foram desmembradas, em sua   maioria,  ficam sempre os espelhos.  Realocados em outro local da casa.

Aliás, as penteadeiras, contudo, sempre existiram e não acabarão jamais. No quarto de moças e senhoras privilegiadas de nossos dias existe um móvel modulado com espelho e gavetas que se chama camarim. Elas não vivem sem espelhos. Ainda bem.

Pedro Lucas Lindoso