Há pessoas que são mestras em fazer confusão. São pessoas confusas. Também conhecidas como lesas. Confundem alhos com bugalhos. Enquanto o alho é o bulbo de certa planta muito usado e apreciado na gastronomia, o bugalho, também conhecido como noz-de-galha, é a protuberância que se forma em troncos de árvores comuns no continente europeu, como os carvalhos,
Nem eu sabia o que eram bugalhos. Fui pesquisar. Não posso deixar meus leitores confusos. Ainda bem que temos o professor Google. Sempre nos ajudando a esclarecer nossas dúvidas.
Pois bem, voltando ao assunto confusão. Essa história é antiga. O fato se deu nos anos sessenta do século passado. O ocorrido me foi relatado pelo meu dileto confrade Geraldo Xavier dos Anjos. Ex-presidente e membro dedicado do IGHA – Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e da Academia Amazonense de Letras.
Havia um desembargador que era negro. Raridade nos dias de hoje. Naquele tempo, mais ainda. Vamos evitar “dar nome aos bois” , como se diz popularmente. Determinada autoridade precisava entregar uma encomenda ao desembargador. Dirigiu-se a residência do magistrado com seu motorista. Ao chegar na casa do desembargador pediu ao leso do homem que entregasse o documento ao desembargador. O motorista avistou um senhor negro no jardim da casa e o chamou:
– o preto velho. Vai chamar teu patrão. O desembargador aproximou-se do portão e disse calmamente.
– Bom dia, eu sou o desembargador. No que o confuso motorista replicou:
– Deixa de conversa, seu preto safado. Vai logo chamar o teu patrão. No que o desembargador, evitando criar confusão, replicou:
– Estou dizendo ao senhor que eu sou mesmo o desembargador. Ainda sem acreditar, o motorista respondeu:
Espera ai um pouco que eu já volto, disse o impertinente motorista.. O leso do chofer então retornou ao carro com a encomenda. O patrão, sem entender o que estava acontecendo pergunta:
– Entregastes a encomenda? E o motorista abestado responde:
– Não senhor. Um preto que estava no jardim não quis chamar o doutor. E ainda por cima dizia que era o desembargador. No que o patrão. Entre nervoso e atordoado repreendeu-o:
– Meu Deus! O homem é mesmo o desembargador. Vai lã, pede mil desculpas e entrega a encomenda. Tu acabastes de escapar de ser preso por desacato a autoridade. Seu estrupício. A confusão causada pelo motorista pode ser considerada como racismo estrutural. Está presente na própria estrutura social. Segundo essa concepção, o racismo não seria uma anormalidade ou “patologia”, mas o resultado do funcionamento “normal” da sociedade. Nos nossos dias seria crime de injúria racial e desacato. Provavelmente o motorista seria preso mesmo. Por confusão desacato ou por racismo.
Pedro Lucas Lindoso.