Projeto proporciona conversas de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas com profissionais de diversas áreas
Dando continuidade às ações que contribuam com o desenvolvimento social de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em Manaus, o projeto “Ensina-me a sonhar” da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), promoveu nesta sexta-feira (8) um bate-papo sobre arte e audiovisual com os socioeducandos do Centro Socioeducativo Dagmar Feitosa, localizado na Zona Oeste de Manaus.
O convidado da vez foi o ator amazonense Adanilo Reis. Com trabalhos relevantes nas telas do cinema e da TV, o artista manauara, que cresceu no bairro Compensa, Zona Oeste da cidade, compartilhou com os adolescentes parte da trajetória de vida, inspirações e superação de adversidades em direção à uma vida melhor.
“Tenho um desejo de estar e de poder transitar em espaços como esses, principalmente, porque eu tenho muita identificação. Eu já não sou tão jovem quanto as pessoas que infelizmente estão aqui, mas eu me identifico muito porque o bairro de onde eu venho, que é a Compensa, é muito próximo de realidade deles. Isso aqui faz parte do meu trabalho, enquanto artista, sempre tento falar de questões da periferia, do meu bairro e eu preciso fazer um esforço para não cair em estereótipos, além de falar sobre arte, é um pouco a minha função tirar esse estigma de criminalidade, das pessoas de periferia aqui do Amazonas”, explica o ator.
Oportunidade
Formulado e lançado em 2017, o “Ensina-me a Sonhar” é um programa que promove, todas as sextas-feiras, nas unidades socioeducativas da cidade, variadas apresentações de profissionais de diversas áreas de carreira, com um bate-papo entre convidados e adolescentes que cumprem medidas no local.
A ação visa promover a ressocialização dos jovens por meio da capacitação e acompanhamento psicossocial, combater os índices de reincidências e oferece, ainda, oportunidade de estágio na Defensoria Pública, como explica a defensora pública e coordenadora do programa, Monique Cruz.
“A ideia é realmente abrir o leque de opções para os jovens. Já trouxemos jogadores de futebol, comissários de bordo, professores, bombeiros, engenheiros. E o diferencial é que a gente busca trazer profissionais que tenham realidades semelhantes às vivenciadas pelos jovens também, com histórias de superação, que tenham ou vieram do interior, estudaram em escola pública, moraram em áreas periféricas, que se envolveram ou não com algum delito, que tenham perdido ou não também pessoas próximas para crimes. O intuito é que os jovens se vejam na pessoa daquele profissional, se identifiquem com aquelas dificuldades e vejam que, se ele conseguiu vencer, outros também podem”, explica a defensora.
Novos horizontes
Para o diretor do Centro Socioeducativo Dagmar Feitosa, Antônio Maciel, o programa “Ensina-me a Sonhar” tem papel de destaque no processo socioeducacional dos jovens da unidade que, atualmente conta com 10 socioeducandos. Ele relembra que o programa tem sido ferramenta de transformação local.
“O projeto chegou aqui em uma época que nós estávamos com capacidade máxima, eram 84 adolescentes numa unidade com cultura de violência. E foi justamente com o ‘Ensina-me a Sonhar’ que, aos poucos, plantamos no coração deles, a possiblidade de recomeçar a vida não na perspectiva do tráfico, mas na perspectiva do cidadão”, conta o diretor.
“Hoje eu posso afirmar que esse programa conseguiu preencher uma lacuna e impactar de forma tão positiva a ressocialização que já temos casos de meninos hoje estão na universidade. Eles passaram por nós e foi por meio da Defensoria Pública que eles conseguiram ter um impulso e acessar o ensino superior. Então eu digo, com toda a certeza, que o ‘Ensina-me a sonhar’ era o que estava faltando aqui para a unidade”, finaliza.
Texto: Priscilla Peixoto
Fotos: Allan Leão/DPE-AM