Em Inglês a palavra “understand” significa entender, compreender. O prefixo “mis” pode mudar completamente o significado de uma palavra e dizer o oposto! No caso de “understand”, por exemplo, temos “misunderstand”. O que vem a significar o oposto de entender, que é compreender mal, não necessariamente um desentendimento.
Martinho Lutero, como sabemos, foi o famoso monge alemão do século XVI. Fundou a doutrina protestante luterana. A doutrina de Lutero tem como elemento central a crença na justificação pela fé, ou seja, que a salvação de uma pessoa é garantida exclusivamente pela fé. Os livros de História sempre se referem ao Martin Luther alemão como Martinho Lutero e nunca como Martin Luther. Já o líder negro americano que lutou pelos direitos civis dos negros sempre foi conhecido no Brasil como Martin Luther King Jr. E nunca como Martinho Lutero King.
Frei Donald foi pároco da Igreja de Santo Antônio em Brasília. É falante do Inglês. Sempre se esforçando em falar o Português corretamente. Mas dava suas derrapadas. Certa vez fez um sermão em que falava sobre o líder negro americano. Chamou-o de Martinho Lutero King. Ninguém entendeu nada. As pessoas achavam que ele se referia ao monge alemão fundador da Igreja Luterana. Frei Donald é meu amigo. No final da missa fui falar com ele e esclareci a confusão. O sermão foi um grande “misunderstanding”.
Quando jovem fiz um curso de Inglês em Londres. Em nossa turma havia estudantes de diversos países. Uma jovem brasileira do interior de Minas nunca havia conversado com um mulçumano. Ao ser informada pelo rapaz que ele fazia suas orações virado para Meca, a moça caiu na gargalhada. O jovem árabe não gostou. Ficou ofendidíssimo.
A garota pediu desculpas que não foram aceitas. Tentei argumentar dizendo que ela desconhecia a cultura dele e não quis ofender. Não adiantou. E o pior. Ficou chateado comigo. Achou que eu estava dando razão à moça. Ninguém quis, em momento algum, desrespeitar a religião e a cultura do jovem rapaz. Pelo contrário.
Expliquei a ele que nós, católicos, durante a missa, comungávamos com um pão simbolizando o corpo de Cristo. E que cada religião tinha seus dogmas e mistérios. E que em nenhum momento houve desrespeito à religião dele. Por fim, o rapaz concordou que estava tudo bem. Mas não poderia perdoar a garota mineira. E uma pena que mal-entendidos não possam ser perdoados. Em época de divisões políticas, ódios injustificáveis, fake news e ressentimentos fica ainda mais difícil esclarecer os mal-entendidos.
Lembra-se da tomada e do focinho de porco? Ambos têm dois buracos. Confundi-los acarreta problemas. Melhor estar atento às diferenças. Nunca foi tão difícil explicar que focinho de porco não é tomada.
Pedro Lucas Lindoso