A engenharia civil busca novos métodos de construção ao se deparar com as demandas de uma realidade de mais consciência ecológica
Pela Lei Federal 6.938, de 31 de agosto de 1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, o dia 14 de agosto foi eleito como data simbólica do Dia de Combate à Poluição, com o intuito de conscientizar a sociedade civil em relação aos diversos tipos de poluição (atmosférica, hídrica, sonora, visual ou do solo).
Atualmente, o Brasil vive o dilema entre o desenvolvimento urbano e a preservação ambiental. De acordo com dados publicados pela Organização das Nações Unidas ainda em 2005, o Brasil já contava com 84,2% de sua população vivendo em cidades, e a projeção para 2050 é que esse percentual salte para 93,6%. Por outro lado, é um país com uma vasta biodiversidade, abrigando cerca de 20% do total de espécies do mundo segundo o relatório do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Neste contexto, as atenções se voltam para encontrar alternativas que preservem o equilíbrio ambiental e permitam o crescimento urbano, para que as cidades comportem as populações, principalmente se levarmos em consideração os índices de poluição produzida pelo setor da construção civil. Segundo o Ministério das Cidades, a construção gera entre 51% e 70% dos dejetos sólidos urbanos. Por conta disso, o governo brasileiro busca viabilizar e incentivar projetos que pensem cada vez mais pelo viés da sustentabilidade – os green buildings.
ESTRUTURAS
Segundo João Ribeiro, professor do curso de Engenharia da Wyden, “entende-se que as construções sustentáveis são aquelas que visam reduzir o impacto ambiental e melhorar a eficiência energética durante o processo de construção e ao longo do seu uso (vida útil do edifício).” Para o docente, a eficiência de um projeto eco-friendly é formada por uma série de decisões estruturais na sua construção, além de uma consciência que exista nos diversos profissionais que acompanham a obra.
“Madeira certificada, tijolos ecológicos, tintas e revestimentos à base de água”, são alguns dos materiais ecológicos apontados por João. Outras estruturas também são necessárias, como um sistema de consumo energia mais eficiente e de fonte renovável, e um sistema hídrico que tenha uma ótima qualidade na captação, armazenamento e reutilização da água da chuva, além de pias e chuveiros que sejam de consumo consciente. Além dessas mudanças na construção, o professor destaca que o é importante manter essa consciência em todos os setores do projeto, assim surge a Modelagem de Informação da Construção (BIM): “Adotar abordagens de projeto integrado, onde todas as partes envolvidas (arquitetos, engenheiros, construtores, etc.) trabalham em conjunto”, afirma João.
VANTAGENS
Segundo o ranking do United Green Building, publicado em 2020, o Brasil é o 5º com mais construções sustentáveis, e essa posição não se dá por acaso. Os green buildings revelam um ótimo custo tanto para quem os constrói quanto para aqueles que moram neles. Os benefícios financeiros são diversos, mas vale ressaltar a relação custo-benefício dos materiais de construção, que podem parecer mais caros à primeira vista, mas evitam gastos futuros em relação às reformas e revisões.
Por outro lado, os prédios sustentáveis estão suscetíveis à valorização, de acordo com João, “À medida que a consciência ambiental aumenta e a demanda por edifícios sustentáveis cresce, essas propriedades tendem a se valorizar mais rapidamente e podem ter uma maior atratividade para os investidores e compradores”, diz. Além disso, os green buildings também atraem atenção pelo uso de tecnologias inovadoras, o que impulsiona o desenvolvimento de novas alternativas menos agressivas ao meio ambiente.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Sobre cidades litorâneas, o professor esclarece. “Elas estão suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas, principalmente quando estão em nível mais baixo, como aumento do nível do mar, eventos climáticos extremos (tempestades, inundações) e alterações no padrão de chuvas, além de uma maior ação dos agentes agressivos às construções, gerando sua deterioração de forma precoce. Nesse contexto, a importância de um desenvolvimento urbano sustentável para a cidade é fundamental para enfrentar os desafios e minimizar os impactos negativos dessas mudanças.”, afirma João.
Importante esclarecer, também, que medidas apenas na área da construção civil não são a solução para os problemas envolvendo as questões climáticas. As mudanças precisam acontecer a partir de outras áreas que, junto à construção, formam o próprio modelo de urbanização. “O planejamento urbano sustentável visa a redução das emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Isso pode ser alcançado por meio da promoção do transporte público, incentivo ao uso de bicicletas, adoção de fontes de energia limpa e maior eficiência energética nos edifícios.”, afirma o professor da Wyden.